Diáspora – Espectáculo

Espectáculo de Dança e Música ao vivo, uma viagem na memória do Mundo, de diásporas de um povo Navegador, cruzando raízes do passado, presente e futuro, em miscigenações culturais, por onde a lusofonia passou, à procura do Novo Continente, no encontro da unidade nas diferenças, onde uma outra cultura nasce do cruzamento de todas, no Portal da Alma Humana. A Amalgama numa produção interdisciplinar com música original especialmente criada para esta criação lança-se na viagem da procura da nova Diáspora!

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Pareceres do Público e Imprensa

Estreia DIÁSPORA por Companhia de Dança Amalgama No Teatro Ibérico: 6, 7 e 8 de Dezembro de 2012

Risoleta Pinto Pedro (escritora), 8 de Dezembro de 2012

A inocência na maturidade:

“[…] E a orla branca foi de ilha em continente,

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,

E viu-se a terra inteira, de repente,

Surgir, redonda, do azul profundo. […]”

Poema “O Infante” in Mensagem, de Fernando Pessoa

Tenho pena de não ter visto este espetáculo antes de o ver, Explico: por contingências várias, só consegui ir vê-lo no último dia. Foi pena. Tê-lo-ia recomendado a todos os meus alunos.

É que não há melhor maneira de ensinar a Mensagem, de ensinar Os Lusíadas.

Ao longo do espetáculo fui assistindo ao desenrolar de todos os cantos da epopeia, de todos os poemas da Mensagem. Poética, técnica, emocional e esteticamente, não consigo imaginar melhor.

Assisti a praticamente todos os espetáculos da Amalgama, escrevi para vários (desde o primeiro espetáculo) e participei em alguns. Conheço a qualidade desta companhia por dentro e por fora. Por isso, perante uma nova coreografia, espero sempre encantar-me. Mas não esperava surpreender-me desta maneira. Porque o que vi foi ao nível do excecional.

Bailarinos e músicos. Excelentes. Todos.

Não há desequilíbrio. Todos muito diferentes, mas num conjunto harmonioso, diria perfeito. A força, a subtileza, a energia, os ritmos, as mudanças, as surpresas, a alegria, as pausas, os delírios, o entusiasmo, o querer mais.

A música é uma espécie de cenário que nos vai transportando através de países, culturas, povos, tempos. Os corpos dançam diferentes ritmos, mas não os imitam, recriam-nos, representam, sugerem, dramatizam entre a tragédia e o humor. Há passagens hilariantes, clownescas no seu melhor, há outras dramáticas, em que os corpos mostram o sofrimento das almas e nos transportam a emoções antigas e conhecidas e por vezes esquecidas. O riso, o choro, a respiração, a aflição, a salvação.

Alguns momentos lembram-me outros momentos, este espetáculo foi buscar o melhor de algumas coisas já feitas e juntou a isso o melhor do que ainda não tinha realizado.

As três cores do guarda-roupa dos bailarinos: preto, vermelho e branco, lembram-me as três fases da obra alquímica ( e despertou-me recordações boas), o azul dos músicos transportou-me do mar ao céu:

“[…] Deus ao mar o perigo e o abismo deu

Mas nele é que espelhou o céu […]”

Poema “Mar Português”, in Mensagem, de Fernando Pessoa

Este espetáculo tem o perigo e o abismo e tem o céu, tem a viagem e tem o regresso, tem os que viajam e os que recebem os viajantes, a profundidade e a alegria, o nevoeiro (do ponto de vista dos sentidos é completo, como se os ouvidos e os olhos nos não bastassem somos abençoados ainda com o perfume do pó-de-arroz) e a luz, a inquietação e a inocência. Nada disto é linear, é preciso senti-lo. Fazer passar a subtileza pelo meio da perfeição técnica não é para todos. Aconteceu.

Na coreografia, independentemente da perfeição da realização, uma leveza, uma naturalidade que me recordou os valores do V Império. Uma espécie de inocência de quem já tanto viveu e realizou e dançou e regressa agora a uma simplicidade por vezes quase infantil. No melhor que esta palavra representa. E isto fez-me todo o sentido, porque é através da Diáspora que os valores do V Império, que são, afinal, a liberdade, a abundância e a inocência, também vão sendo espalhados pelo Mundo. A partir daqui. De dentro. De nós. Num momento de crise nacional, internacional e planetária, faz-nos bem ver este espetáculo. Devolve-nos qualquer coisa que ainda não tem nome mas que conhecemos. Porque sentimos.

A linguagem é a dos corações que vão sendo semeados pelo placo e pelo meio dos espetctadores.

Proponho uma petição online para a realização de mais espetáculos. Se possível, neste belíssimo espaço que é o Teatro Ibérico.

No final, não fiquei para os costumados abraços. Precisava de encontrar as palavras e prolongar as emoções. Encontrar o coração. Lamento não ter conseguido felicitar ao vivo quem felicito agora: Todos.

No dia em que se celebrou a Senhora dos Mares. Perfeito, também o dia.

R.P.P.